Prazer

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São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O homem da casa

O que eu estranho é aquele som que imperava de manhã.

Dos copos, dos pratos e das panelas batendo uns nos outros, gerando uma sinfonia.

Do andar arrastado de uma chinela pela casa, somado com aquele ritmo de arrumação.

Aqueles sons, uma hora na cozinha, outra hora no quarto do lado, outra hora no banheiro. Sons gerados pelo mesmo ser.

Chega uma hora, que você não sabe mais o que é casa e o que é ser. Pois aquele ser, já se tornou tão parte daquela casa, que você não consegue mais, enxergar aquilo tudo sem aqueles sons, sem aquele movimento.

Às vezes escuto a porta da minha casa abrindo, e quando vou à procura de quem está entrando, não vejo ninguém.

Às vezes, antes mesmo de me direcionar ao encontro da porta, grito “pai?! Chegou?!”. E, quando vejo, não é ele. Não é ninguém.

Na verdade, ele já estava em casa. Eu que cismei com a ilusão de que um dia, ele saiu porta fora e nunca mais voltou.

É que mesmo não estando presente, ele está.

Uma hora, eu atendo o telefone e ele diz “sinal de fax Beatriz”. Aí eu me lembro do barulho da faca cortando as laranjas, da TV no jogo do náutico contra o esporte, do peso dele sobre minha casa, do espaço preenchido por ele.

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