Prazer

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São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Os oráculos debaixo da minha cama



Grato eu ficaria hoje se eu te dissesse sobre meus amigos imaginários, sobre a podridão que eu gero dentro das laranjas sempre quando eu faço malabares e deixo elas caírem no chão. Sobre essa minha mania eterna de não gostar de guarda roupas, ao ponto de toda noite antes de dormir abro eles para ver se tem alguém escondido. Gostaria também de comentar sobre essa minha mania escrota de todo dia, ao ir ao banheiro, olhar no vaso sanitário e ver se tem uma cabeça que foi decapitada de algum conhecido boiando na água.
Cada tempo que passa parece que o mofo da minha casa vai se alojando em mim. Mesmo com banhos, me arejando sentado em minha varanda olhando o ensaio do grupo de balé aqui de frente de casa, me sinto estranhamente envelhecido.
Esses dias um dos bailarinos parou e ficou me encarando, me olhando sem jeito, como se perguntasse se tava tudo bem. Eu conseguia ouvir ele sussurrar no pé da minha orelha, dizendo "tá tudo bem?". E eu, em um súbito empurrão das palavras disse "tá". Baixíssimo, assim, para mim mesmo.
Acho que está tudo bem. Como, durmo, acordo, leio livros, fico aqui na frente do computador, às vezes algumas pessoas vêm me visitar, faço receitas, cozinho. Não é calmaria, mas tudo está bem mais monótono.
A falta de vontade se tornou um roedor que expulsa teus sentimentos mais intensificados, e te deixa assim, apático. Dentro de um pote de puro ócio humano. Perco a idéia de hora. Não acordo porque tenho que fazer algo, acordo por acordar. Porque meu corpo cansou de dormir.
Percebo que no verão os insetos tomaram conta da casa. Acordei um dia desses, fui ao banheiro e logo que sai do banho vi uma mariposa pousada sobre a banheira. Enorme, amarela e estática. As aranhas tomaram meu quarto. Os cupins não param de se reproduzir. Já não penso mais em matá-los. Não tento mais. Comecei a andar descalço, não seguro meus chinelos nas mãos. Tem pequenas asas transparente para o branco entre os cachos do meu cabelo.
Perdi o meu calendário de rotina.

3 comentários:

  1. isso é só a sensação de esperar por uma resposta. o ócio acabará antes do verão terminar.
    acredite em mim!

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  2. Caramba Beatriz, que legal seu texto, gostei de umas observações do cotidiano, parabéns.
    Obrigado pelo comentário, vou acompanhar aqui também.

    Boa semana
    Bruno

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