Prazer

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São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O aspecto tristonho das coisas

Hoje o dia acordou atrasado. Seco e frio. Cinzento e preto. Acordei e tomei um banho mais molhado do que o normal, com um sono mais acordardo do que o mesmo de sempre.
Vesti minhas roupas, sem pensar muito em sua composição estética, e quando me deparei no espelho, logo me veio a seguinte frase na minha cabeça "estou vestida para um velório".
Tenho mania de frases. Em muitos momentos da minha vida, uma junção de determinadas palavras saem do meu cérebro sem ao menos eu ter a coragem de pensar. Explodem dentro da minha boca. O som se ausenta, mas a ideia se faz por todo o presente.
Me assustei de primeira cara, pois sempre quando essas frases saem da minha boca, já sei que o diabo instalou-se em minha língua.
O telefone tocou, logo depois de imaginar a frase. Ligação as sete horas da manhã só pode ser coisa importante. Escuto o som da minha mãe se locomovendo pela casa. Escuto o cheiro da caneca de café, escuto o chinelo se alastrando devagar pelo corredor. Era a minha tia, que está morando na Inglaterra.
Cheguei na sala, minha mãe havia acabado de atender o telefone e disse "está frio Bi, põe um casaco". Entrei no meu quarto para pegar um casaco, com aquela sensação de perda amanhecida, sensação de cama deixada para trás, sensação de medo, de estranheza. Puxei o meu casaco e logo veio o casaco da minha avó junto. Me assustei de ver uma roupa de uma falecida tão próxima.

Voltei para casa. O dia já terminara e a noite aparecia mais seca do que o dia. Dia quente que espalhou sua quentura pelo escuro.

Hoje, ao abrir a porta, não tenho latido de cachorro. Não tenho festinha de criança pulando de lá pra cá. Não tenho televisão ligada no jornal nacional, não tenho irmã em casa, não tenho cheiro de comida sendo feita.
Tenho uma mala a ser arrumada, tenho uma passagem de viagem, tenho um estômago embrulhado.

E principalmente, tenho a noção de eternidade. Pelo menos hoje.

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