Prazer

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São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Cento e dezoito

São cento e dezoito.

Cento e dezoito sacos cheios de pedras e cobertos de sangue. Cento e dezoito dias furtando de maneira eloquente. Cento e dezoito filhos mortos. Cento e dezoito bestas desmilinguidas. Cento e dezoito. Somente cento e dezoito.

Esse sim é o número do fantasma do capeta na vida aquela mulher. Não é sessenta e seis, muito mais pelo cento e dezoito.

Corpos retorcidos, deturpados, soltos pelas suas próprias casas. Alguns ainda emitiam sons, pelo santo azar o deles.
Porque quanto mais se grita, mais cento e dezoito aparecem. E quanto mais se enlouquece, menos se perde a conta.
Corre Cutia que o teu filho e o teu marido foram defender a tua pátria mãe gentil, e a casa da tia tá cheia de mais cento e dezoito.
Corre, e foge. Foge de fora de si e abrigue-se só aí por dentro, e não permita que nada mais te invada, nada mais te domine.

Não perca a fome.
Não perca a conta.
Fique em silêncio.
Cantarole para o seu filho dormir onde ele estiver.

Até que os cento e dezoito nos separe novamente.



"Hoje o meu professor de história geral me contou a seguinte história: uma senhora polonesa que estava dando uma entrevista em um programa de televisão russo, comentava sobre a sua vivência durante a segunda guerra mundial. Ao longo da entrevista, a mulher chorava muito. Porém, em certo momento, ela disse que já estava pronta para falar sobre o acontecimento. O entrevistador logo, curioso, perguntou "qual acontecimento?".
A mulher então lhe contou que, durante a segunda guerra mundial, os soldados alemãs invadiram a sua aldeia (que por um acaso não tinha nenhum homem, pois todos estavam na guerra) e começaram a estuprar as mulheres em série. A senhora passou por isso em algum período de tempo, de maneira que no final, cento e dezoito soldados alemãs haviam lhe estuprado. Ela disse que contou quantos homens, para não ficar louca.
Depois da entrevista, inúmeros telefonemas de senhoras de diversos outros lugares da Europa começaram a ser feitos para o programa, contando a mesma história."


Pois até hoje, o que muda são os números.

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