Prazer

Minha foto
São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ano de vestibular

Estou estudando em uma sala de aula de cursinho. Uma sala vazia de pessoas, com dezenas de cadeiras exprimidas em fileiras grudadas, que impossibilita a facilidade de locomoção; cadeiras que nos deixam constrangidos e nos faz pedir desculpas por chegarmos tão perto de alguém desconhecido, por entrelaçarmos nossas pernas e joelhos com as coxas e canelas entre vários desconhecidos.
Hoje, estudando nesta sala, repleta e amarrotada de cadeiras azuis, olhei para a parte de cima do teto e me defrontei com um nome, escrito em larga escala com um giz laranja: THIAGO GUIMARÃES FERNANDES.
Primeiramente, pensei que deveria ser o nome de algum professor. Eu tenho um professor chamado Thiago, bizarro o suficiente para escrever o seu nome no teto, mas não acredito que essa letra seja cabível a este indivíduo.
Me pego mesmo é nessa contradição, da impessoalidade e pessoalidade. Até hoje converso com pessoas no meu cursinho que não sei o nome delas, tenho aula com professores que não sabem o meu nome. Porém, quando me deparo com um nome assim, escancarado em minha cara, parece que já criei repulsa.
Esqueci de vez por todas o significado de uma palavra. Acostumei-me esse ano a não admirar nomes; a me resumir as desculpas pelas coxas entrelaçadas; ao crescente arquivo dentro de mim de caras conhecidas que encontrarei nos próximos anos por aí. Às vezes até me esqueço dessas caras, me esqueço do contorno dos olhos, do contorno da boca, do movimento dos lábios, do tom que sai desses lábios. Fica apenas a cara branca ali, às vezes fica apenas um tronco de ser vivo, sem cabeça.
Às vezes não fica é nada. Resolvi então, em algum momento, resumir todos os nomes em apenas um: Sr (a). Desconhecido (a).
"A, esse aí? É um conhecido do meu cursinho, gente boa, fez direito. Combinamos de eu amanhã ligar para ele". Já me imagino até justificando exatamente isso para alguém, ao longo da corrida do meu dia, ao longo da corrida da minha vida.

Um comentário:

  1. eu sentia a mesma coisa em 2008.
    e até hoje encontro as caras brancas conhecidas por aí.

    ResponderExcluir