Prazer

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São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

"Salve-se, Seu Salvador!"

Um homem um tanto quanto esbelto. Pomposo eu até diria.
Com trajes de veludo verde-abafado, cor de musgo envelhecido. Cor de branquitude de leite amargo com medo dos raios de sol. Cor de euforia disritmada.
Coberto com um bigode cheio, abarrotado de pelos sobre os seus lábios finos e secos. A pele um tanto fechada para dentro de si, um tanto marcada de tanto de si.
Abre a porta da frente da sua casa e já sente o sol queimando tanto a pele quanto tudo. Resmunga. Pensa em voltar para dentro e esquecer dos deveres de casa, dos deveres da vida, pensa até mesmo em trocar de roupa.
Porém, recorda-se rapidamente que, por ser um homem de bom agrado a sua individualidade, não teria outro tipo de roupa além daquelas que estava usando, pois escolheu em algum momento da sua vida, não perder tempo escolhendo algo.
Cotidiano é a palavra de ordem. Pequenas compras no mercado do bairro. Um cumprimento aqui, outro lá. Passos sempre iguais sobre as mesmas calçadas, o sapato já está intimo das ruas a tantos anos, que os dois se confundem como dois amantes comemorando suas bodas de ouro.
Não escolhe como já foi dito, apenas segue o dia a dia. Sempre vivendo nos mesmos hábitos, sempre respirando da mesma forma e resmungando cada dia mais aprofundado.
Sai do portão, pega a chave que está no bolso do paletó, tranca e inicia a caminhada sobre a quentura esbaforida. Os sinos da igreja tocam, ele para, olha, e resmunga alguns grunhidos. Debate-se dentro de sua cabeça, avaliando que aquele calor não está de acordo com a sua pessoa.

Resmunga, resmunga, resmunga.

Seu Salvador, um homem cotidianamente acostumado, cotidianamente odiado pelo seu cotidiano.

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