Prazer

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São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Meu mapa

Já percebeu que se você fechar os olhos dentro da sua casa, você consegue andar perfeitamente?
É como se você já tivesse decorado tudo que está a sua volta, não é uma questão de sensibilidade, e sim de convívio com uma matéria, com um objeto, é como se acostumar. A gente se acostuma com uma cadeira, com uma mesa, com livros ao nosso redor, assim como nos acostumamos a pisar no chão, á saber que temos um teto em cima de nós que não irá nos esmagar. A gente aprender a confiar em paredes para não sermos esmagados, aprendemos a confiar nas cadeiras para sermos segurados, e aprendemos a confiar nas facas para não sermos mortos. Eu confio em uma continuação do meu corpo, assim como confio nas palavras que eu falo, como confio nas pessoas que eu convivo e sei que elas escolhem muito bem as cadeiras para eu sentar.
A minha mãe comprou a mesa que existe na minha sala, a mesa é daquelas que cresce, que aumenta de tamanho quando mais pessoas chegam aqui em casa para comer conosco. A minha mãe escolheu uma mesa que aumenta porque a minha mãe gosta de coisas que aumentam, a minha mãe gosta de pessoas ao seu redor, ela gosta do calor. A minha mãe é carioca, eu acho que sente falta do sol que cresceu em cima dela, então ela trás as pessoas aqui em casa para elas serem novos sóis dela. Eu acho que eu sou o sol para minha mãe, eu e minha irmã e minha cadela, somos um grande sol, um conjunto de um sol enorme. E a mesa, nos junta, a mesa faz com que sejamos um sol em um momento só, fazendo a mesma coisa.
A mesa da minha sala fez com que eu aprendesse a andar mais para a direita do que para a esquerda para chegar ao corredor. A minha mãe colocou a mesa lá, para que a mesa tivesse a possibilidade de abrir e caber mais pessoas. Por toda a minha vida, eu tive que andar mais para a direita para chegar ao corredor e para caber mais pessoas. Por toda a minha vida, eu convivi e esperei por muitas pessoas. Por toda a minha vida, a temperatura da mesa da minha sala é mais quente do que a temperatura do meu quarto, ou mesmo do que a temperatura do meu banheiro. E eu fico esperando aquela temperatura alta sempre voltar a ser alta. E, eu sei que ela sempre volta.

3 comentários:

  1. e vc nem sabe pra quanta gente vc é um sol. pra quanta gente faz falta o seu calor....e quanta gente queria sentar na sua mesa...=**

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  2. O prazer é recíproco. Que baita texto!
    "aprendemos a confiar nas facas para não sermos mortos." Verdade muito bem posta.

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