Prazer

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São Paulo, SP, Brazil
Vinte anos, estudante de ciências sociais, atriz do grupo "Pequeno Teatro de Torneado", filha de uma carioca com um pernambucano.

sábado, 9 de janeiro de 2010

sede

Peço um copo de água. Ele me olha com aquela cara de quem não quer nada e diz "é que só tem água".

A vontade que me dá e de dizer "só?".

Eu só tava precisando me acalmar por dentro.

Só precisava de água. Só isso. Nada mais que água para acalmar um ser humano. Talvez uma colher de açúcar, a minha vó falava que água com açúcar acalmava alguém quando estava muito nervoso.

Eu não estava muito nervosa, apenas nervosa. Ansiosa por esse momento, por essa conversa.

Ele sentou na minha frente e me olhou com aquela cara de desconhecida, de alguém que não se vê faz tempo e você conhece de outra época.

Eu segurava o copo ao alcance dos meus lábios, e implorava para que a água não termina se rápida para que assim, eu não precisa se retirar aquele copo da minha cara e me despir para ele.

A água acabou, meu sangue gelou.

Tirei o copo do rosto e ele continuava me olhando daquela forma que eu não gostava, que me incomodava.

Então perguntei "e a sua mãe, como tá?"

E ele disse "está bem, e a sua?"

Eu "ótima"

O mesmo silêncio de sempre. Será que eu sentia isso por ter apenas dezoito anos? Será que quando eu tiver quarenta eu ainda continuarei inquieta quando ele estiver na minha frente? Será que ele estará comigo até os quarenta anos?

"Tem mais água?", eu perguntei.

Ele disse "sim". Levantou, tirou o copo da minha mão e foi buscar.

Aí, na hora em que ele virou, eu só senti o impulso de ir correndo abraçá-lo.

Pega-lo por trás, começar a chorar com ele em volta de mim, e no meio das lágrimas e dos soluços eu iria dizer,

Eu iria gritar para que ele pudesse escutar: "Aprendi francês, italiano e latim. Joguei futebol, fiz hipismo, corri em uma maratona e aprendi a andar de bicicleta, li 48 livros novos, comprei 72 cartões postais para fazer uma coleção, fiz curso de desenho, mandarim, cerâmica, origami, encadernação, arranjo de flores, violão e flauta.".

Ele então, me olharia com aquela cara de quem realmente não me conhecia.

Amo pela falta que ele me trás, pela falta que me move.

Formei-me a partir da sua falta. Motivei-me ao novo por essa falta.

E agora, estamos tomando água, para nos acalmar.

Ele voltou da cozinha,

Veio até a cadeira onde estava sentada,

Olhou para mim

E disse "seu copo".

Eu,

claramente,

agradeci: "obrigada"

Eu só estava precisando me acalmar por dentro.

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